Já tens o teu canal de YouTube (ou estás em vias de criar um) mas não sabes o que fazer para cresceres em subscritores e visualizações? A Mais Educativa falou com uma agência e com uma rede de canais, e também com alguns dos teus ídolos – o Rad Weasel, o Paulo Sousa e a Sea3PO – para perceber como podes evoluir e chegar ao patamar onde começas a ganhar dinheiro e a despertar o interesse das marcas.
As agências
São empresas que, à semelhança do que acontece com os músicos ou com os jogadores de futebol, criam uma carteira de clientes que, neste caso, são criadores de conteúdo, podendo ser bloggers, youtubers ou instagrammers. Mas afinal o que fazem estas agências pelos criadores e de que forma os ajudam a gerir os seus conteúdos e as suas carreiras?
O que são e que mais-valias trazem?
Estas empresas dão a conhecer às marcas esta nova dimensão de comunicação que é feita através dos influenciadores, ao mesmo tempo que constroem preços de mercado para quem produz os conteúdos. Depois, medeiam toda a negociação entre as marcas e os criadores de conteúdo, e garantem que o serviço que estes prestam às marcas tem, por um lado, qualidade, e que por outro garante a liberdade de expressão de cada um dos influenciadores, sempre que estes fizerem este tipo de trabalho.
No final, as agências dedicam-se à medição do retorno que as marcas efetivamente têm quando optam por este tipo de comunicação.
Para que este processo funcione, as agências também procuram atuar junto dos criadores de conteúdo para que estes possam crescer e posicionar-se de forma correta no mercado. Como? Ana Marques da Milenar explica que é dado “auxílio na definição da estratégia de programação e de conteúdos dos canais, e na melhoria da qualidade e diversidade do seu conteúdo, para chegarem cada vez a mais audiência. Para além disso, as agências ajudam os criadores a compreender melhor como posicionar os seus vídeos, a definir e implementar estratégias de conteúdo e crescimento dos seus canais, e a dar apoio no acesso a materiais de apoio à produção de conteúdos, como o acesso a bibliotecas de música, o contacto e a relação com as marcas, e a gestão de conteúdos com conteúdo promocional”.
Uma das empresas que faz este trabalho é a Thumb Media. Trata-se da única rede de canais portuguesa, que cria, produz, gere e distribui conteúdos nas plataformas digitais. É certificada pelo YouTube e gere um portefólio de mais de 1000 canais e mais de 130 mil peças de conteúdo de vídeo e áudio, acumulando mais de 2,6 mil milhões de visualizações e mais de 16 milhões de subscritores na sua rede.
Quando é que um youtuber se torna apetecível para as agências?
Para tomarem a decisão relativamente ao agenciamento ou não de um youtuber ou outro criador de conteúdos, as agências analisam o comportamento dos dados estatísticos do canal. De acordo com Miguel Sabino da Thumb Media, o trabalho de um youtuber tornar-se ou não apetecível “depende muito do tipo de canal e do tipo de conteúdo que é produzido. Mais até do que os números absolutos, como o número de subscritores ou o número de visualizações, é mais importante perceber onde é que a audiência está, como é que interage com o conteúdo, que tempo médio de visualização de cada vídeo tem, se vê até ao fim, se partilha, se comenta, etc.”
Tudo isso são indicadores que mostram o valor do conteúdo, e que acabam por ser ainda mais relevantes do que os números imediatamente visíveis. Como refere Miguel Sabino, “há muito mais a analisar para além do que se vê à superfície”.
E quando é que as marcas se começam a interessar pelos youtubers?
São as agências quem dá a conhecer os criadores de conteúdo ao mercado, e são também elas quem muitas vezes os propõe às marcas. Ao início, as marcas não conheciam esta realidade nem estavam despertas para ela, e como tal havia muito pouca recetividade a este tipo de investimento, porque simplesmente não compreendiam o valor, o impacto e o alcance destes criadores.
Hoje, de acordo com Ana Marques, embora este “continue a ser um mercado novo e em constante mudança, as marcas confiam no nosso trabalho, aceitam as nossas propostas para os briefings que enviam e até hoje não tivemos nenhuma campanha com youtubers que não cumprisse os objetivos”.
E tal como já explicámos anteriormente, não são apenas as visualizações que ditam tudo, e há muitos outros fatores e indicadores estatísticos que são tidos em conta para determinar a relevância e o potencial de um youtuber.
Porque investem as marcas nos youtubers?
Porque será que as marcas apostam nos youtubers, em vez de investirem noutros suportes? Ana Marques explica que “hoje as pessoas são digitais: pesquisam, partilham, comparam e recomendam. E os youtubers inserem-se nesta realidade.”
Com tanta informação, as recomendações a partilha de experiências tornaram-se fundamentais para a tomada de decisão de compra. As pessoas confiam mais no boca-a-boca e no que é dito online, do que na publicidade paga. Desta forma, os influenciadores – sejam eles celebridades, bloggers ou youtubers – têm um enorme poder quando partilham com a sua audiência a sua experiência com determinada marca, e têm uma grande capacidade de influenciar opiniões e atitudes. E por isso, de acordo com Ana Marques, “tornam-se fundamentais para qualquer estratégia de comunicação”.
Isto não quer dizer que os youtubers se tenham tornado na única peça de comunicação das marcas. Pelo contrário, eles são “apenas um dos ingredientes no plano de comunicação e marketing de qualquer marca”, segundo Ana Marques da agência Milenar, que defende que os youtubers “não são uma pastilha mágica que resolve os problemas de visibilidade ou de alcance de uma marca. Devem ser integrados num plano coerente e estratégico, para que a sua ação seja positiva e alcance os melhores resultados possíveis.”
Como pode um youtuber tornar-se apelativo?
Se queres ser youtuber e ter sucesso, há duas coisas que não podes dispensar, de acordo com as agências Milenar e Thumb Media: “Uma é a tua autenticidade, e a outra é a tua capacidade de seres diferente e único”, dizem os seus responsáveis.
Porquê? Porque quando estas empresas analisam talento, uma das coisas que mais procuram “é a capacidade de fazer coisas diferentes, ou de forma inovadora”, explica Ana Marques. E prossegue: “Recebemos diariamente dezenas de pedidos de adesão em que, quando pedimos às pessoas para explicarem o que fazem de diferente, a maior parte diz não faço nada de diferente… é esse o primeiro erro. Pode-se fazer um desafio que centenas ou milhares de canais fizeram, mas dar-lhe um toque único, diferenciador e inovador, isso é que faz a diferença e é isso que distingue os melhores.”
Por estes motivos, quem conseguir encontrar um espaço para ser diferente e único de alguma forma no YouTube, vai aumentar exponencialmente a sua probabilidade de sucesso.
O que fazer para aumentar as visualizações e as subscrições?
De acordo com as agências com quem falámos, existem alguns requisitos essenciais para fazer crescer um canal:
Regularidade – Encontrar uma cadência de publicação de vídeos e cumpri-la. As pessoas gostam de regularidade e, mesmo inconscientemente, vão procurar o conteúdo nos dias próprios.
Consistência – Consistência na mensagem, na forma como se comunica e como se produz, como se interage com a comunidade, e no tipo de conteúdo.
Diferença – A capacidade de fazer as coisas de maneira diferente, com uma abordagem única, cria oportunidade para as pessoas interagirem de forma diferente com o conteúdo, e mais facilmente apreciarem aquilo que é produzido.
A juntar a estes fatores – que são passíveis de ser trabalhados – há outro que é intangível: A capacidade de ser “relacionável” com a audiência. A capacidade de empatia, de criar vontade nas pessoas para verem o que se vai fazer a seguir, e a capacidade de se identificarem com a pessoa e com o conteúdo é essencial e determina o nível de sucesso de um criador. Quanto mais “empática” e mais facilmente “relacionável” a pessoa for, maior potencial de crescimento vai ter e, naturalmente, maior sucesso.
Os youtubers
E os teus ídolos? O que têm eles a dizer sobre as melhores práticas para fazeres crescer o teu canal? Falámos com a Sea3PO, com o Paulo Sousa e com o Rad Weasel sobre a relação que formaram com as marcas e agências, como se tornaram influenciadores e como ganham dinheiro no YouTube.
Como fazer com que os conteúdos sejam vistos?
Rad Weasel
Na verdade, hoje em dia é bastante complicado conseguir essa visibilidade, e a única coisa que nos destaca dos demais é a nossa personalidade e a capacidade de fazer com que quem nos vê se identifique com a forma como nos apresentamos.
Paulo Sousa
Com tanta informação a chegar ao mesmo tempo é cada vez mais difícil sobressair no meio da multidão. Na minha opinião, há um fator distintivo que passa pela GENUINIDADE, ou seja, conseguir transmitir a quem está a ver o nosso vídeo que não estamos a fazer teatro, e que aquilo nos sai naturalmente.
Quando é que um youtuber se torna influenciador?
Rad Weasel
Eu diria que nos tornamos influenciadores no momento em que lançamos o primeiro vídeo. Isto é, a nossa opinião é sempre vista como referência. Senti isso desde muito cedo na minha área (o gaming), fosse pelos jogos, pelos periféricos que uso, etc… A partir daí, diria que o crescimento é a consequência da aceitação positiva por parte do público daquela que é a nossa opinião.
Paulo Sousa
Não acredito que haja propriamente algum género de algoritmo para nos tornarmos influenciadores. No meu caso em particular, foi um processo muito progressivo! Naturalmente que a participação em programas de televisão fez com que o canal crescesse, uma vez que todas as minhas redes sociais também subiram. Tentei, desde sempre, canalizar a minha influência em todas as redes sociais para o YouTube, e isso foi um passo muito importante para manter o canal alimentado.
Como se ganha dinheiro no YouTube?
Rad Weasel
No meu caso, precisei de cerca de 1 ano de trabalho até começar a ver os primeiros frutos. O YouTube, enquanto parte integrante da Google, tem um departamento chamado AdSense que trata da publicidade que aparece no YouTube, e por consequência os ganhos dos canais com base nos anúncios apresentados nos vídeos.
O pagamento só é feito quando se atinge um total de 100 dólares, e esse valor é enviado através de uma forma de pagamento à nossa escolha. A monetização dos vídeos tem sofrido algumas alterações e, hoje em dia, um novo canal necessita de ter pelo menos 1000 subscritores e 4 mil horas de visualizações/mês antes de se tornar partner do YouTube e ficar assim habilitado a ativar a monetização dos vídeos. Este é o processo inícial.
Mais tarde, passa a haver a necessidade de pertencer a uma network que faz a ligação entre o youtuber e o YouTube. É o equivalente a um “agente” e torna-se uma ajuda fundamental no funcionamento normal do canal. No meu caso, faço parte da Thumb Media, uma network 100 por cento nacional, e estou muito feliz. Os ganhos do canal são faturados e recebo o valor através do PayPal.
Paulo Sousa
Antigamente, era preciso ter uma média de “x” visualizações e de “y” subscritores por dia. Hoje em dia, é muito mais fácil: basta inscrevermo-nos numa network ou fazer esse acordo diretamente através do YouTube. A minha também é a Thumb Media e eu aconselho a estarem inseridos numa, uma vez que há um contacto mais direto com um representante, caso tenhamos algum problema no canal. Esta tem a vantagem de ser portuguesa. Através do site deles, ou pesquisando por Thumb Media, chegam lá e é super fácil.
A relação com as marcas
Rad Weasel
As marcas, como em tudo, aparecem quando conseguimos oferecer a visibilidade que elas procuram. As marcas são muito criteriosas na hora de escolher a forma como se promovem, logo quando escolhem um influenciador tentam ao máximo que ele seja exatamente quem é perante o seu público. É pelo menos isto que tenho sentido e, como tal, não sinto necessidade de mudar a minha maneira de trabalhar.
Paulo Sousa
As marcas estão interessadas em números, mas também na qualidade do material. Há aquelas que são mais restritivas e que nos dão um plano detalhado do que querem no vídeo, e de que forma querem que o produto seja abordado. Daí que em 99 por cento das vezes tenhamos que enviar o vídeo pronto para a marca, para que ela aprove antes de ele sair, no sentido de verificar se está tudo como idealiza.
Há outras marcas que deixam à vontade do influenciador a forma de comunicar ao seu público, já que ninguém o conhece melhor que o próprio. Essas são as nossas preferidas.
E quando surgem as agências?
Rad Weasel
No meu caso, tal como as marcas também foi a agência que me procurou, e não o contrário. Posso por isso dizer que primeiro veio o trabalho, e só depois apareceram estas regalias.
A agência BeInfluence tem sido um ponto charneira para o meu canal, porque abre realmente portas e permite uma divulgação extra YouTube. Lá encontrei uma equipa jovem e dinâmica que, entre muitas outras coisas, me ajuda imenso a fazer a ligação comercial com as marcas. Eu faço o meu trabalho e eles ajudam-me a tirar o melhor partido das ofertas que vão aparecendo.
Paulo Sousa
Uma parceria com uma agência faz sentido, na minha opinião, a partir do momento em que começamos a ter projetos e/ou marcas interessadas em trabalhar connosco. Poderá fazer sentido se 1) estivermos cientes de que uma percentagem do que recebemos vai para a agência em si, mas que 2) poderão surgir outros contactos que, sozinhos, não conseguiríamos tão facilmente.
Sea3PO
Pela minha experiência, eu diria que as agências surgem após atingirmos a marca dos 100 mil subscritores. No entanto, este é um assunto delicado, uma vez que é relativamente novo e desconhecido pelos youtubers. É complicado saberes o que é bom ou mau para a tua carreira, e no meu caso em particular, foram necessárias algumas experiências positivas e outras negativas até encontrar pessoas que pudessem realmente ser uma mais-valia para mim e ajudar-me a crescer o meu canal e a representar-me da forma que eu acho mais adequada.
Como fazeres crescer o teu canal
Rad Weasel
Para mim, todo o processo tem sido, acima de tudo, uma aventura fantástica. O início é complicado… Passei mais de 1 ano a produzir conteúdo sem qualquer tipo de feedback ou retorno financeiro. É preciso compreender que ter e alimentar um canal de YouTube requer um grande nível de compromisso e de poder de encaixe, pois a verdade é que demora bastante tempo até o nosso trabalho ser reconhecido. O que fiz foi pautar o meu trabalho por um compromisso muito grande em cumprir horários na saída dos vídeos, aliado à tentativa de tentar trazer sempre o melhor conteúdo de playthrough possível, comentado da melhor forma.
Felizmente, um dia fui notado por youtubers como o João Sousa, a Jekas, o Bitz, o Alvini, o Tiagovski e o RicFazeres, que acabaram por alavancar o canal e, com isso, como costumo dizer, colocaram-me no mapa do YouTube. Ainda assim, antes disso acontecer já tinha cerca de 800 vídeos publicados no canal, pelo que não acredito que haja sorte sem trabalho. Por mais shouts que te deem, se o trabalho não estiver lá as pessoas não te vão acompanhar só porque alguém te diz para o fazer… até podem fazê-lo mas acredito que vão retirar rapidamente a sua subscrição.
Paulo Sousa
Foi tudo lento e progressivo. Entrei no YouTube quando ainda nem se ganhava dinheiro (nem sequer se ouvia falar disso em Portugal!) Tudo começou por ser um simples hobby, e entretanto já houve vídeos que apaguei e outros que voltei a repetir. Também já quis fazer vlogs, mas nunca os cheguei a fazer. Neste momento, há quase dois anos que faço colaborações com youtubers.
Quer isto dizer que não há regras! Os nossos gostos vão mudando com o tempo, e as modas também são muito voláteis. Acima de tudo, aquilo que para mim sempre imperou foi a decisão de fazer aquilo que quero e que gosto – e as pessoas acabam por perceber isso!
Sea3PO
O melhor processo para fazer crescer um canal de YouTube é por tentativa e erro! Tentei várias coisas, algumas funcionaram e outras não. De tudo o que fiz, a maior lição que aprendi foi que a consistência é uma palavra-chave, não apenas na publicação de vídeos de uma forma regular, mas também na consistência e na coerência do conteúdo que publicas.
As dicas para o teu canal
Rad Weasel
Prepara-te para trabalhar dia após dia com seriedade e com a humildade de saberes que, apesar de não haver visualizações ou o feedback que esperavas, do outro lado existe um público para conquistar. E para isso há que ter a capacidade de entender que vamos demorar semanas, meses, anos, ou que simplesmente poderá nunca chegar a acontecer…
Por isso, é fundamental seres tu próprio. Até porque hoje em dia é apenas isso que nos pode diferenciar de todos os outros: A nossa personalidade! Será a tua maneira de ser a fazer com que as pessoas se identifiquem (ou não) com o que queres transmitir. O público do YouTube já viu quase tudo, por isso sê diferente sem nunca deixares de ser quem és. As visualizações aparecerão de forma gradual, como um prémio.
Se te focares no essencial, o resto tornar-se-á numa bola de neve que não parará de crescer. Nunca desistas!
Paulo Sousa
Estamos numa altura em que a quantidade (e a qualidade!) dos vídeos é tão grande que há cuidados a ter. Desde a luz do local onde filmamos ao formato do vídeo, passando pela qualidade do som e da imagem do próprio vídeo, entre várias outras coisas.
A realidade é que já não é tão bem aceite gravar somente através da câmara do computador. O nível da tecnologia subiu e o YouTube acompanhou em pleno essa evolução. Mas, acima de tudo, o que mais importa é sermos nós próprios. Sei que é muito cliché dizê-lo, mas é a mais pura das verdades!
Sea3PO
Em primeiro lugar, esquece as visualizações, os números e as estatísticas. Preocupa-te com a tua autenticidade! Ao começares um canal, os primeiros anos vão ser meio esquisitos, uma vez que vais andar à procura do que é que o teu canal vai ser. Para além disso, leva tempo até começares a ficar confortável a falar para uma câmara, e mesmo assim será sempre meio esquisito! Pratica, estuda e inspira-te com outros canais, e acima de tudo sê paciente!
[Reportagem: Tiago Belim]