O teste PISA é considerado o maior do mundo, envolve meio milhão de alunos a cada três anos, e serve para avaliar o sistema educativo de cada país. Nos últimos anos, Portugal passou da cauda da OCDE para um nível acima da média de todos os países desta organização. E agora há um site que tenta explicar porquê.
A Educação em Exame. Assim se chama a plataforma online que resulta de um projeto conjunto do Conselho Nacional de Educação, da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) e do jornal Expresso. Reunidos neste site estão os dados de todas as participações de Portugal no teste PISA, desde o ano 2000, devidamente enquadrados e explicados para que seja possível à comunidade académica mas também a qualquer cidadão comum perceber as razões para este desempenho dos alunos portugueses nesta avaliação. São assuntos complexos numa linguagem simples, sem com isso perder rigor e qualidade científica.
Que lições podemos tirar dos resultados PISA em Portugal? O que podemos fazer para melhorar? Estas são as grandes questões às quais este trabalho pretende ajudar a responder, agregando a recolha de dados feita pela equipa do projeto aQeduto com a capacidade de seleção e de interpretação dos jornalistas do jornal Expresso.
O que é e como está organizado?
O educacaoemexame.pt é uma obra digital interativa que coloca à disposição de todos dados relevantes sobre o teste PISA, que são hoje não só uma ferramenta estatística como também uma ajuda para analisar o sistema educativo português e a sua posição a nível internacional.
Está dividida em quatro grandes áreas, sendo a primeira dedicada aos próprios testes PISA e aos dados que eles nos trazem. É o repositório de dados desta plataforma, que são disponibilizados com grande atenção ao seu contexto, e que dão conta da performance dos alunos portugueses neste teste e da possível comparação entre os restantes 72 países onde ele é realizado.
Esta área do site foi também pensada para todos aqueles que já ouviram falar no teste PISA mas que nunca o viram ou fizeram, sendo possível experimentar fazer o teste em tempo real com apenas um clique.
A segunda área é igualmente fundamental, porque se refere aos alunos e ao seu contexto familiar. Como pensam? Como estudam? Qual é o seu enquadramento socioeconómico e que impacto é que ele tem? Porque têm os resultados que têm? Têm níveis elevados de ansiedade ou não? Há muitas retenções?
O terceiro capítulo é dedicado aos professores e às escolas, e documenta o problema específico do envelhecimento dos corpos docentes ou o tempo que os alunos passam na escola. Como se incute atualmente a disciplina nos alunos, e será que professores mais velhos são mais ou menos capazes de o fazer? Os alunos portugueses têm das maiores cargas horárias dentro da escola, mas são mais privilegiados no volume dos trabalhos que levam para casa.
Por fim, a quarta área mostra o investimento público que tem sido feito no domínio da educação. O crescimento desse investimento tem sido moderado, mas as melhorias nos resultados dos alunos no teste PISA com o investimento que tem sido possível são encorajadoras, graças ao trabalho das escolas e ao projeto pedagógico dos professores.
Ao longo de todas estas áreas vais poder ainda encontrar os testemunhos dos protagonistas: Os professores e os alunos.
Todos estes dados são apresentados desde o ano 2000 e é intenção da FFMS continuar a alimentar esta plataforma à medida que o teste PISA for sendo feito, e os seus resultados tornados públicos.
David Justino é Presidente do Conselho Nacional de Educação e o principal mentor deste projeto, e sustenta que ele nasceu “da necessidade de ir mais além da publicação de três em três anos dos resultados PISA, com a preocupação de que não basta dar opinião, é preciso dar opinião fundamentada e percetível”.
Havia “um enorme stock de informação disponível na OCDE, que não é habitualmente utilizada quando se quer saber se os resultados melhoraram ou não”, e que é fundamental para ir “em busca do que está por detrás dos rankings”, defendeu durante a apresentação da plataforma A Educação em Exame, dizendo que foi “a preocupação por mais e melhor informação e mais rigor que nos levou a fazer este trabalho”, que quer chegar “não só à comunidade académica mas também aos decisores políticos e ao grande público”.
Os alunos portugueses gostam da escola e dos professores, mas sentem-se ansiosos e chumbam bastante
De acordo com as conclusões expressas na plataforma A Educação em Exame, os alunos portugueses que participam no teste PISA gostam da escola, sentem-se felizes e integrados. Também se dão bem com os professores e acreditam que estes lhes garantem quase todo o apoio possível. Mas nem por isso deixam de ficar muito ansiosos na hora de fazer os testes e de receber as notas.
Mais preocupante ainda é o facto dos alunos portugueses chumbarem bastante, pelo menos o dobro daquilo que é a média dos países da OCDE. Ainda que o valor esteja em queda, pior só mesmo na Bélgica e em Espanha. E são os alunos portugueses economicamente mais vulneráveis que mais falham na escola, uma escola que não está a conseguir ajudá-los a superar as dificuldades que enfrentam fora dela.
Apesar disso, os alunos portugueses dizem falar com os pais e garantem que estes se preocupam com a sua vida escolar. Já os diretores das escolas queixam-se da indisciplina e da falta de respeito dos jovens pelos professores na sala de aula.
Estrato social mais elevado traduz-se em melhores notas. Mas nem sempre…
Diz este trabalho que, tradicionalmente, quanto mais alto for o estatuto socioeconómico dos alunos e do seu agregado familiar, melhor será o seu desempenho no teste PISA. Mas as estatísticas indicam que nem sempre é assim, e que há escolas que conseguem ultrapassar todas as dificuldades do meio em que se inserem e levar os seus alunos a ter resultados que rivalizam com os que têm mais condições para se destacar.
De resto, o peso do atraso formativo do país continua a pesar. Quase metade das mães dos alunos de 15 anos tem no máximo o 9º ano de escolaridade, sendo que as novas gerações têm novos hábitos, novas expetativas e irão seguramente mais longe na escola que muitos dos seus pais.
Professores com queixas
De acordo com os dados disponibilizados nesta plataforma, a dimensão média das turmas pode ter impacto na gestão da sala de aula, mas não tem implicações na qualidade da aprendizagem. Os professores sentem-se motivados para ajudar os seus alunos e ficam tão mais satisfeitos quanto eles conseguirem aprender, mas encontram-se insatisfeitos com o número de horas de trabalho, com a indisciplina dos alunos e com as tarefas burocráticas que têm de cumprir.
Podes encontrar estas e outras conclusões na plataforma A Educação em Exame, neste link.