Muita gente conhece o Chapitô como a “escola dos palhaços”, mas é muito mais do que isso. É inclusão social, é uma família, é um local de grande rigor e trabalho. E celebrou o começo do ano letivo na passada segunda-feira.
O ambiente é de animação e reencontro quando se entra pela porta azul do Chapitô. Toda a gente se conhece, alunos, professores e funcionários misturam-se no espaço com grandes sorrisos, conversas fáceis e um ambiente de festa e expectativa. Como convidados especiais desta cerimónia estão, por exemplo, o Presidente da Junta de Freguesia, Miguel Coelho, uma representante da Estrutura de Missão para as Comemorações do V Centenário da Circum-navegação, Isabel Rodrigues e três representantes da Escola Segura da PSP.
A cerimónia
A cerimónia formal dá-se na grande tenda do Chapitô onde a fundadora da casa, Teresa Ricou, dá as boas vindas aos alunos e apresenta a sessão. Há a entrega dos diplomas e barretes aos diplomados do ano letivo de 2016/17, o visionamento de um video sobre a história e principais focos da escola, a apresentação quase individual da equipa de 90 pessoas (professores e funcionários) da casa e como convidado especial, o ex-aluno Mica foi deixar uma palavras aos mais novos e fazer uma pequena atuação.
Formado em 2010, tem um grande amor pela casa e pelos anos que lá passou. Admite que os anos que passou no Chapitô “não foram fáceis, mas foram 3 dos melhores anos da minha vida”. Durante alguns anos esteve na América Latina a explorar a sua arte, mas acabou por voltar às raizes. Agora, partilha com os alunos do Chapitô a sua experiência, bem como aprende com eles.
No final da cerimónia, todos os presentes foram convidados para um almoço de convívio onde, de forma descontraída, continuaram a encontrar amigos e a conversar entre todos, recordando o que já passou e o que está para vir.
A escola
O tema do Chapitô muda de ano para ano, e em 2017/18 vai ter como foco o mar e os 500 anos da circum-navegarão marítima realizada por Fernão de Magalhães. E é nisso que vão trabalhar os dois cursos da casa – o de Interpretação e Animação Circenses, onde é trabalhado mais o on stage e o curso de Cenografia, Figurinos e Adereços, onde se tratam dos ofícios e do backstage. Ambos são extremamente práticos e desafiantes a nível técnico, profissional e pessoal, necessitando de uma entrega total. Como afirma Américo Peças, Assessor da Direção para a Educação, “o nosso curso tem uma forte incidência cívica, isto é, entendemos que o ato de aprender é um ato partilhado (…) E é por isso todo o trabalho desde o 1º ano é muito vocacionado para uma aplicação social em centros de dia, em bairros sociais, em creches, jardins de infância onde eles vão partilhar o que aprendem.”
O Chapitô é um espaço aberto a toda a gente, com um restaurante, uma loja, uma troupe sénior, uma equipa especializada em levar as artes circenses aos Centros Educativos localizados em bairros mais complicados. Como nos disse a Filipa Batista, uma das responsáveis por este tipo de projetos, o Chapitô trabalha em parceria com o Ministério da Justiça, a Fundação Calouste Gulbenkian e outros parceiros sociais de forma a permitir a inclusão social de jovens dos Centros Educativos da Bela Vista, Navarro Paiva e também de Caxias. Têm vários projetos a acontecer e este ano e o foco principal é o voluntariado.
O Chapitô não é apenas uma escola, é um local cujo objetivo é, como esclarece a diretora Teresa Ricou:
“Pelas artes incluir quem está excluído”
A nova Coordenadora Pedagógica, Maria Adelina Amorim, espera “que estes alunos que entram agora e os que saem sintam que isto foi parte da vida delas e que fizeram parte desta casa, e farão sempre”. Esta é uma escola onde irão desenvolver a sua vocação e descobrir-se a si próprios, através de muito trabalho e dedicação.
Os alunos
O Chapitô tem uma taxa de inclusão no mercado de trabalho na casa dos 80 por cento e fomos tentar perceber junto dos alunos como é que é a formação e porque são tão bem sucedidos.
A Daniela acabou de entrar no curso de Interpretação e gostaria de seguir um futuro ligado ao “clown com um bocadinho de acrobática”. Afirma que o programa é equilibrado, sendo que as disciplas práticas e teóricas se complementam, não conseguindo escolher aquela(s) que mais quer ter.
A Mariana Lopes, do mesmo curso mas agora no 2º ano, afirma que “entrei a pensar que isto era um mundo super mágico, mas quando entrei mesmo descobri que era triplamente mais mágico”. Não consegue esconder a alegria de estudar nesta escola e de fazer parte, como ela diz, desta família. Para a Mariana, o Chapitô “é vida”.
“A expectativa é que a escola possa ser aquilo para o que foi construída, uma hipótese, uma alternativa, uma solução e um espaço de aprendizagem, naturalmente, mas de reviravolta. Reviravolta concertante, de reviravolta positiva, de lançamento, um trampolim. Um trampolim de 3 anos, um trampolim com elásticos fortes que permite a estes miúdos e miúdas darem os grandes saltos para o futuro.”
(Sónia Correia, Assessora da Direção)
Os recém diplomados, Catarina Fernandes, melhor aluna do curso de Cenografia, Emmanuelle “Emma” Costa, também deste curso, e Rúben Monteiro, do curso de Interpretação olham para o Chapitô numa perspetiva diferente. Todos deram o melhor de si e empenharam-se o máximo possível. A Emma considera que “é como se esta escola nos sugasse tudo e nos desse tudo ao mesmo tempo”, reforçando o Rúben que “tudo se resume à magia desta casa (…) Dediquei a maior parte do meu tempo, dos meus pensamentos e da minha força de vontade ao Chapitô”. A Catarina não deixa de afirmar que “não me tinha esforçado tanto se não tivesse tido os professores e colegas que tive”, que parte do motivo pelo qual é agora uma das duas melhores alunas do seu ano é o ambiente de dedicação, disciplina e bom clima que se vive na escola.
O segredo do Chapitô
É a única escola em Portugal que forma profissionais ligados às artes circenses. Custa 40 euros por mês, dedica-se às causas sociais e ensina, tanto como a técnica e a teoria das várias vertentes desta área, a auto-disciplina e o trabalho duro.
Foi criada há quase 40 anos por uma senhora autodidata que acredita no poder que as artes circenses têm para resolver problemas sociais. E Teresa Ricou não esconde que para criar e continuar a desenvolver este projeto é preciso “muita energia, muita persistência e muita criatividade”.
Mas o verdadeiro segredo é a dedicação e o amor à arte. Não podemos ser “mercenários” e fazer as coisas pelo dinheiro, é “preciso ter muita determinação, é preciso muita militância”.