Frederico Morais – Kikas, para quem o conhece melhor – deu, no final de 2016, o último salto que lhe faltava para se juntar aos melhores do mundo. Cumprido o sonho, continua a querer melhorar sempre que está na água, e à entrada da sua primeira aventura na World Surf League, a Mais Educativa dá-te a conhecer melhor o novo menino bonito do surf português!
Aos 25 anos, o Frederico Morais acaba de conseguir a classificação para a World Surf League (WSL), e é a primeira pessoa em Portugal a lá chegar depois do “Saca”. Como se lida com tudo isto?
Ao início foi um bocado estranho porque é a concretização de um sonho. Foi preciso muito trabalho e fazer muitos sacrifícios! Mas agora já caí em mim e já sei bem o que tenho a fazer. É um novo campeonato, é um novo objetivo na minha vida. O trabalho já começou há muito tempo e estou focado nisso, até porque me vou embora para a Austrália no dia 1 de fevereiro [local da primeira prova do calendário da World Surf League, o Quiksilver Pro Gold Coast]. Um profissional a sério não pode deslumbrar-se nem ficar preso ao momento em que conseguiu a qualificação…
Como está a ser a tua vida antes de começares a competir no principal campeonato de surf? As tuas rotinas, os teus treinos… Alguma coisa mudou?
Eu voltei do Havai [onde em dezembro garantiu a qualificação para a WSL] e passados três dias já estava no ginásio. Gosto de ter o meu dia a dia bem organizado e nunca mudei nada… Quero continuar a trabalhar como tenho trabalhado, tenho ido ao ginásio todos os dias e tento aproveitar o máximo de ondas possível para surfar. Por isso, a rotina tem sido a mesma, ainda que haja um pouco mais de media e de entrevistas na minha vida, mas nada com que não se consiga lidar. Até é bom sinal, significa que as pessoas se interessam pelo desporto e por tudo o que eu tenho feito. É um orgulho!
A tua carreira é um projeto de muitos anos, construído por ti e pela tua família, e sempre com a preocupação de dar passos seguros. Sentiste que era este o momento de dar o salto para a WSL?
É difícil de dizer. Se eu me tivesse qualificado antes, teria dado o salto antes… Se não me tivesse qualificado este ano, teria continuado a trabalhar. Felizmente consegui alcançar o meu objetivo já neste ano, e não atribuo isso a uma maior maturidade… O meu trabalho sempre foi o mesmo. Este ano consegui finalmente juntar as peças e alcancei a qualificação.
É uma pergunta difícil mas eu, mais do que nunca, sinto-me preparado e sinto que tenho hipóteses de construir uma boa carreira.
“O meu tio sempre disse: ‘Desconfia dos mais fracos e respeita os mais fortes’. Não interessa quem vou defrontar, o foco vai ser o mesmo!”
O que tens planeado para este primeiro ano e quais os teus objetivos daqui para a frente?
Eu não estou a pensar em planos para o futuro. Falta-me viver o meu primeiro ano no tour. O meu foco é este ano e primeiro tenho de ultrapassar os desafios que se me vão deparar, para no final de 2017 poder falar em voos mais altos. Para já, tenho muito para provar e para aprender. Vou tentar fazer o meu melhor, apesar de saber que vai ser difícil, pois é um campeonato muito competitivo onde competem os melhores surfistas do mundo, e todos com muita experiência. Mas estou muito focado e muito feliz.
Ouve-se muito dizer que este campeonato é uma coisa completamente diferente. O que é que é existe assim de tão diferente no WSL em relação às outras competições em que participaste até aqui?
O que eu diria que é mais diferente são as ondas. Normalmente, são sempre ondas de classe mundial, são as melhores do mundo! De resto, é a minha primeira vez, não sei que outras diferenças vou encontrar… Já competi em Peniche [no Meo Rip Curl Pro Portugal, prova da WSL] e não senti assim tanta diferença para o circuito de qualificação! Tenho a certeza que vou deparar-me com muitas coisas que ainda não conheço, e às quais vou ter de me adaptar, mas acho que vai ser uma mudança para melhor.
Quando olhas para todo o teu percurso até chegares a este nível, quais são os momentos que para ti foram realmente decisivos?
Eu diria que um dos momentos decisivos na minha carreira foi quando me tornei campeão nacional sub-20 aos 14 anos. Achei que tinha de dar o pulo e procurar mais do que vivia em Portugal. Acho também que todas as derrotas que já tive me ensinaram mais do que qualquer vitória. Olho mais para onde estive mal, para o que tenho de melhorar… Foram elas também que me ajudaram e ensinaram a chegar onde estou hoje.
És o segundo português a chegar à elite do surf mundial, depois do Tiago Pires. Como te caraterizas a ti e ao teu surf face ao dele?
Não sei, é difícil dizer. São surfs em alturas completamente diferentes! Ele esteve no circuito numa altura diferente daquela em que eu vou estar. Ele tem um surf muito poderoso e muito bom nos tubos. O que eu mais gosto de fazer são manobras power, um surf muito rail. Eu gosto muito de inovar, trabalho muito na criatividade e na inovação, porque há sempre coisas a melhorar.
Sei que sempre que vais para a água, vais com uma manobra em específico na cabeça, com o objetivo de a aperfeiçoares. Continua a ser assim de cada vez que vais para dentro de água? Continuas a querer sair da água melhor do que quando entraste?
Sem dúvida, e acho que agora isso é mais verdade do que nunca! Esse deve ser o meu modo de pensar e encarar o treino quando vou surfar, e agora ainda há mais treino e trabalho para fazer! Essa é uma mentalidade que não pode desaparecer de todo…
Sentes pressão por parte dos portugueses para que sejas um sucessor tão bom ou melhor que o “Saca”?
Não sinto qualquer pressão, são carreiras completamente diferentes. Temos histórias diferentes, estilos diferentes, carreiras diferentes, resultados diferentes, surfs diferentes. Eu vou criar a minha carreira, o meu percurso e a minha história sem qualquer pressão. O meu foco não é igualar os meus feitos aos do Tiago, mas sim criar os meus.
Com que surfistas estás mais entusiasmado por competir?
Acho que todos os atletas que estão no tour têm características que eu admiro e são surfistas dos quais gosto muito. Mas não tenho assim ninguém em especial que queira defrontar; estou mais ansioso pelas ondas que vou surfar do que pelos surfistas que vou defrontar.
O meu tio sempre disse: “Desconfia dos mais fracos e respeita os mais fortes”. Não interessa quem vou defrontar, o foco vai ser o mesmo!
Que conselhos podes dar aos jovens que têm o sonho de chegar ao teu nível?
Acima de tudo é preciso muito trabalho e muito espírito de sacrifício, mas sobretudo termos prazer em fazer aquilo que estamos a fazer! Acordarmos de manhã sempre com mais vontade do que no dia anterior, não só no surf, mas em tudo o que fazemos na vida.
E os teus estudos? Tens algum plano para além do surf a esse nível?
Eu terminei o 12º ano e depois optei por me dedicar apenas ao surf, e esse é o meu foco agora. Ainda agora comecei a minha carreira para pensar como é que ela vai acabar… Portanto o meu foco não está em mais lado nenhum.
O calendário da World Surf League 2017
Quiksilver Pro Gold Coast – 14 a 25 de março
Drug Aware Margaret River Pro – 29 março a 9 de abril
Rip Curl Pro Bells Beach – 12 a 24 de abril
Rio Pro – 9 a 20 de maio
Fiji Pro – 4 a 16 de junho
Corona Open J-Bay – 12 a 23 de julho
Billabong Pro Teahupo’o – 11 a 22 de agosto
Hurley Pro at Trestles – 6 a 17 de setembro
Quiksilver Pro France – 3 a 14 de outubro
Meo Rip Curl Pro Portugal – 17 a 28 de outubro
Billabong Pipe Masters – 8 a 20 de dezembro
[Entrevista: Tiago Belim]
[Fotos: Carlos Pinto]
Esta entrevista faz parte da edição de janeiro/fevereiro da revista Mais Educativa. Para leres mais, clica aqui!