Entrevista | Sofia Mariano: O caminho para uma Habitação mais justa
A crise da Habitação revela ser um problema — de difícil resolução.
Sofia Mariano, Escuteira, Investigadora e Embaixadora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa (NOVA FCSH) evidencia — em entrevista — um percurso de “Mérito e Excelência”, mediante o papel central no “Plano Municipal para Pessoas em Situação de Sem-Abrigo” da Câmara Municipal de Lisboa.
Que área escolheste no 10.º ano? Já tinhas ideia do que querias fazer — após o Ensino Secundário?
No Secundário, escolhi Línguas e Humanidades, porque gostava imenso de Geografia e História. Mas só no 10.º ano — graças aos professores que tive — é que percebi que essa era a minha verdadeira vocação.
Apesar do fascínio por Geografia, acabaste por ir para Antropologia. Porquê?
Candidatei-me na 1.ª fase para Geografia, mas não entrei.
Na 2.ª fase, vi que Antropologia também podia abrir portas na área que me interessava, por isso inscrevi-me e entrei. No entanto, ao fim de um semestre percebi que não era para mim. Pesquisei como mudar de curso e consegui transferir-me para Geografia e Planeamento Regional.
Em 2024, participaste no “Plano Municipal para Pessoas em Situação de Sem-Abrigo” da Câmara Municipal de Lisboa. Que papel desempenhaste?
Fui convidada pelo professor José Lúcio para integrar a equipa, que analisava entrevistas feitas a pessoas em situação de sem-abrigo. A ideia era cruzar dados, como idade, nacionalidade, profissão e razões, que levaram àquela situação.
As entrevistas eram desafiantes — muitas respostas eram sim ou não, mas nem sempre era fácil consegui-las. Era preciso ganhar a confiança das pessoas. Depois das entrevistas, organizei e agrupei a informação recolhida em diferentes categorias. A partir daí, elaborei um relatório com as principais conclusões, onde os resultados vieram confirmar aquilo que já se intuía — muitas pessoas vivem na rua e enfrentam condições extremamente difíceis.

Atualmente, és uma das embaixadoras da NOVA FCSH. Como é que surgiu a oportunidade?
Em 2023, a Faculdade abriu candidaturas para selecionar embaixadores. Candidatei-me e fui escolhida. Desde então, represento a NOVA FCSH em feiras, como a Futurália, e em visitas a Escolas, onde falo dos cursos e da experiência universitária.
Sei que realizas muito trabalho voluntário na Cáritas e no Banco Alimentar Contra a Fome. O que é que te motivou a envolveres-te? Que impacto é que possui na tua formação profissional e pessoal?
Comecei com os escuteiros, onde estou desde os 7 anos. Sempre fizemos muitas atividades ligadas ao Voluntariado, o que me motivou a continuar.
Estar em contacto direto com pessoas, que enfrentam grandes dificuldades, ajuda-me a crescer pessoalmente e a perceber melhor as realidades que estudo.
A crise da Habitação é um tema cada vez mais prevalente. De que forma é que o Planeamento Regional pode colmatar o fenómeno — sem comprometer a Sustentabilidade Urbana?
Não vamos dizer regional, mas sim territorial. O meu curso é regional, mas em vez de englobar só uma região, vamos englobar o território todo.
A solução passa por vários eixos. Primeiro, melhorar os transportes públicos — entre periferias e centros urbanos — para reduzir a dependência do carro. Depois, recuperar edifícios devolutos e reconvertê-los em habitação social. Incentivos fiscais aos promotores, que construam casas acessíveis, também seriam importantes, assim como parcerias no setor público e privado.
É crucial limitar a especulação imobiliária e aumentar taxas sobre imóveis devolutos para estimular a sua reabilitação.
Em que tipo de trabalho te imaginas a aplicar os teus conhecimentos no futuro?
Tenho muito interesse pela Proteção Civil. Foi até por isso que inicialmente considerei Antropologia. O escutismo também me aproximou dessa área. Gosto da parte prática, de ir para o terreno e aplicar o que aprendo. Por exemplo, numa situação de incêndio, há todo um planeamento, que depende da análise do território — como posicionar meios, quando os substituir e como reagir ao relevo. É esse tipo de gestão que me fascina.
Um conselho?
O curso tem uma parte teórica e outra muito prática, o que o torna completo. Trabalhamos com softwares, como o “ArcMap”, que são ferramentas fundamentais atualmente.
O curso cobre quatro áreas: Geografia Física, Geografia Humana, Ordenamento do Território e Sistemas de Informação Geográfica (SIG). No último ano, há espaço para escolher cadeiras, conforme os interesses de cada um, o que permite alguma especialização.
Também recomendo que aproveitem ao máximo conferências, seminários e eventos — são ótimos para aprender, fazer contactos e preparar a entrada no mercado de trabalho.
