ADN Escolas: Escola Secundária António Damásio
A promoção de uma cultura inclusiva de oportunidades — para todos — concretiza a missão — fundamentada na “qualidade e eficácia”.
Alberto Veronesi, Diretor, declara — em entrevista — que a prioridade deverá residir no cuidado para “formar cidadãos responsáveis, proativos, solidários e — cientificamente — competentes”.
Que doutrinas sustentam a pedagogia implementada?
A Escola deixou de ser só um lugar de transmissão de conhecimento, passando a ser um espaço de crescimento coletivo — focado nas pessoas. É uma organização única, cujo principal objetivo é o desenvolvimento dos seus membros, valorizando o processo, as relações e a intencionalidade pedagógica — mais do que resultados numéricos isolados.
Inspiro-me na visão de Peter Senge, que defende que a organização deve, e os seus membros, evoluir continuamente, aprendendo com erros e sucessos e mantendo o projeto educativo aberto, flexível e construído — em conjunto com a comunidade.
O sucesso de resultados — assente na inovação e na criatividade — constitui um dos eixos estratégicos. A autonomia garante uma performance contínua — e de prosperidade?
A verdadeira mudança passa por confiar nos professores e na sua capacidade de decidir dentro da sala de aula, uma vez que interferir excessivamente prejudica o processo.
A inovação não deve ser espetáculo ou malabarismo, mas sim capacidade de ensinar de forma eficaz, garantindo que os alunos compreendam e construam conhecimento, mediante uma adaptação à evolução tecnológica e a uma liberdade pedagógica.
Afirmou — num artigo de opinião, que redigiu para a CNN — que “o sistema educativo nacional foi assaltado por uma ideologia de experimentalismo e enveredou por caminhos, onde a avaliação foi desvalorizada e o currículo foi esfrangalhado”. A flexibilização — em vez de libertar — aprisiona o potencial?
Nos últimos anos, especialmente — desde 2015 — com a Geringonça, o paradigma da avaliação mudou bastante, passando esta a adaptar-se ao aluno ao invés de este, através do empenho, garantir melhores aprendizagens. O aluno deve estar no centro do processo, mas a exigência da avaliação não se deve adaptar ao aluno.
A ideia inicial de flexibilizar os currículos baixou o nível de exigência, gerando um problema: os alunos não são desafiados a superarem-se, o que afeta a resiliência e a capacidade de lidar com a frustração, existindo situações em que alunos — com apoios específicos — têm notas melhores do que colegas que estudam muito — o que desmotiva e cria desigualdades.
Precisamos de manter o rigor e a exigência, com o objetivo principal de transmitir conhecimento, oferecendo mais apoio e acompanhamento — sem facilitar.
O empenho — sobretudo dos alunos, mas também dos professores e famílias — é essencial para uma aprendizagem verdadeira.
A valorização da inclusão na aprendizagem “impulsiona a felicidade e o bem-estar”?
Sou crítico da forma como a inclusão tem sido aplicada, especialmente em relação ao Decreto 54. A inclusão é um princípio humano essencial, mas as medidas atuais, motivadas por custos económicos, têm falhado.
A colocação de alunos com necessidades específicas numa turma regular — sem o apoio adequado — não beneficia ninguém, uma vez que muitas vezes não conseguem acompanhar e acabam por não ser verdadeiramente incluídos, enquanto os outros alunos também perdem atenção que merecem.
A inclusão deve ser feita por diferenciação, reconhecendo que cada aluno é diferente. Alunos com dificuldades graves precisam de intervenções específicas, que nem sempre podem ocorrer na sala comum.
De acordo com os dados — revelados pela PORDATA —, 20% apresenta “extremas” dificuldades de leitura. A desmaterialização dos manuais amplifica a resistência à capacidade de argumentação ou facilita o envolvimento assíduo — em sala de aula?
Acredito que até aos 12 anos (6º ano) é fundamental que as crianças tenham contacto com materiais físicos — folhear páginas, pintar e colar — porque auxilia o desenvolvimento cognitivo e estimula conexões cerebrais, que o digital não substitui. No 3.º ciclo já podemos ponderar.
Já a partir do 10º ano (15-16 anos), os alunos já estão mais preparados para utilizar manuais digitais, podendo haver um aumento gradual do uso do digital em substituição ao físico, especialmente considerando o ambiente universitário, onde o digital predomina.
Fernando Alexandre — Ministro da Educação, Ciência e Inovação — recomenda a proibição de ecrãs — em contexto de recreio. O smartphone compete com o convívio?
Sem dúvida, mas aqui, a utilização dos telemóveis é proibida, sendo que só podem ser usados dentro da sala de aula, quando o professor autoriza, pois reconhecemos que o telemóvel pode ser uma ferramenta útil para a aprendizagem.
Atualmente, estamos numa fase de reeducação dos hábitos, incentivando os alunos a manterem os telemóveis guardados e usá-los apenas quando permitido.
Os pais têm apoiado a proibição, mesmo que os alunos, especialmente os mais velhos, possam ter tido a ideia de contestar — inicialmente.
Porém, a tendência é continuar a restringir a utilização do telemóvel para evitar distrações, com foco em ensinar os alunos a usá-los de forma responsável.
A vulnerabilidade a ataques cibernéticos simboliza ameaças — sem precedentes. O crescimento do cyberbullying exige tolerância zero?
A indisciplina é encarada como um “cancro escolar”, com impacto sério e prolongado no desempenho dos alunos.
Adotamos — por isso — uma política de tolerância zero face ao bullying, cyberbullying ou qualquer outra forma de violência, onde medidas disciplinares rigorosas, chegando inclusive à transferência de alunos por motivos de indisciplina, já foram aplicadas para garantir um ambiente seguro e propício à aprendizagem.
Contudo, o cyberbullying representa um desafio adicional, por ocorrer fora do espaço escolar, muitas vezes sem ser levado a sério pelos próprios alunos e onde os adultos não entram. Para o combater, realizamos ações de sensibilização com a Escola Segura e promovemos o envolvimento ativo da comunidade educativa.
Que apostas planeiam executar — no próximo ano letivo?
O objetivo é tornar o Agrupamento num espaço atrativo para docentes, reconhecido pela qualidade do ensino e livre de burocracias desnecessárias, como o excesso de grelhas, e-mails ou reuniões. A prioridade é evitar a fuga de alunos. Oferecer um ensino dos 3 aos 18 anos com qualidade.
Para isso, neste primeiro mandato, montámos salas TIC nas três Escolas do 1º Ciclo, reorganizámos os apoios educativo e, mesmo que com escassez de professores, tentamos todos os dias oferecer uma formação de excelência e segurança às famílias. Por exemplo, no ensino especial, a equipa foi renovada com uma coordenadora de prestígio nacional, fornecendo um destaque regional ao Agrupamento, e vamos ter oferta especializada dos 3 aos 18 anos.
12º ano concluído. O que gostava que um/a aluno/a dissesse sobre o período educativo?
“Sinto uma enorme satisfação por ter feito parte deste Agrupamento — desde o Pré-Escolar até à transição para a Universidade.”
Acredito que este deve ser sempre o objetivo de qualquer Instituição — proporcionar uma experiência positiva, acompanhada de perto e com uma avaliação constante para melhorar aquilo que não está a funcionar.
Excelente entrevista tendo sido posto o enfoque nos
problemas das escolas e uma visão muto consolidada sobre o ensino.
Olá, Mário! Muito obrigada 😊