Entrevista | Bluay: O talento (altruísta)
Foi — em infinitas horas de produção caseira e amigável — que a génese de um espaço de expressão despontou, nascendo — inusitadamente — uma estrela, que — jamais — cederá ao peso dos dias.
A aspiração insaciável de “fazer acontecer” — de José Carlos Tavares — dá corpo a um pseudónimo, que repugna rótulos, optando pela firmeza de ambientes ecléticos e heterogéneos — resultantes do acaso e da espiritualidade.
O bairro do Casalinho é um bastião do hip-hop — em Portugal. O símbolo característico da Ajuda carimba a raíz de uma ode à liberdade?
Por acaso o meu bairro não tem muita cultural musical, mas eu sinto que as portas se foram abrindo e é bom ver o pessoal mais novo a explorar esse lado. É um bairro rico em cultura e em diversidade, o que sempre ajudou na minha criatividade e daqueles à minha volta. Uma vida com obstáculos pode sempre levar a dois caminho, a desistir ou a ter vontade de ultrapassar, e de onde eu venho há muita gente a querer ultrapassar, resiliência não falta.
A constância nas redes sociais constituiu um marco singular. Que papel desempenha o digital na transmissão de uma mensagem underground e lírica?
Hoje em dia, as redes sociais são a maior janela para o mundo e saber utilizar isso a nosso favor é uma grande arma de divulgação da nossa música. Tento fazer tudo de uma forma autêntica e a minha presença digital acaba por ser um espelho disso.
“Louco” acumulou mais de 20 milhões de streams e sete platinas. A exploração de um relacionamento amoroso irradia memórias antigas?
Há muitas músicas eu faço baseadas em memórias, mas por acaso o “Louco” acabou por surgir de uma inspiração da sonoridade que estava a fazer na guitarra que me puxou para aquele imaginário de um relacionamento muito intenso, mas não foi com base em nenhuma memória específica, foi mesmo inspiração do momento.
Com uma vertente — emocionalmente — inquietante, o single “Clima” confessa relutância. O desejo incerto manifesta esperança?
A esperança é algo que trago sempre comigo e que marca a minha vida e tento sempre levar isso para as minhas relações, e acho que isso acaba por transparecer sempre nas minhas canções, é inevitável escrever como sou e o “Clima” vem com essa mensagem de resiliência.
O modelo final de uma criação requer uma metodologia linear?
Não propriamente, depende muito de caso para caso e de música para música.
Cada canção tem a sua própria magia e o seu próprio método, o que me faz tratar cada uma de maneiras diferentes. O método acaba por ser aquele que surge no momento e que cada canção pede.
Empenhado a erguer repertório, os feats com Julinho KSD — “Faz Bem” — e Irina Barros — “Bom Dia” — afirmam um lugar robusto no panorama nacional. A rima une diversidades urbanas?
A música em si une pessoas e culturas e isso reflete-se tanto nos meus feats como no panorama musical nacional em geral.
Tenho sempre vontade de fazer música com pessoas diferentes, porque acho que aprendemos sempre muito com isso e chegamos onde não conseguimos sozinhos.
Após a participação no Festival da Canção, conquistaste o “Artista Revelação” — nos Prémios Play. O galardão emerge de um processo de…?
… auto-superação.
É algo que está sempre comigo, tento sempre fazer mais e melhor, embora na música isso seja algo muito relativo. Mas tenho sempre isso em mente quando estou a escrever.
2025. O que ansiar?
Haverá — certamente — temas inéditos — carregados de surpresa e entrega total —, que confidenciarão facetas inesperadas.
Bora lá!