Poeta da Cidade | O poder da palavra
Com uma forte vontade de “fazer a ode perdurar“, Pedro Freitas dá corpo a um pseudónimo, que percorre ambientes ecléticos, que inspiram — sem papas na língua ou hesitações.
Sendo um “dizedor nato”, o espaço de expressão — e de identidade — confessa as aspirações — e devaneios —, que o tornaram numa (eloquente) promessa literária.
O desejo — a que te propões alimentar — alia-se a uma “grande paixão por Lisboa”?
Inicialmente, existia — de facto — o anseio de unir a alma urbana ao cosmos do verso.
Todavia, os contornos díspares do crescimento posicionam — agora — o horizonte do sonho no mundo — nunca esquecendo a capital, que me alicerçou para almejar mais, maior e melhor.
“Pratica(mente)” e “Sobre(tudo)” marcam uma trajetória, onde as spoken words imperam?
Sam the Kid apadrinhou a descoberta de José Régio — com a gravação de “Cântico Negro”, interpretada pela voz grave e comovente de Paulo Gracindo — ou de “Biografia” — de Miguel Torga —, catalisando um encontro — entre som, físico e ritmo.
No âmbito do lançamento — em 2008 — do disco “Hip Hop Pessoa”, que oferecia autonomia a produtores e beatmakers para reimaginar a lírica de Fernando Pessoa, dei — por mim — a mergulhar em talentos, que tropecei — por intermédio do rap.
A obra “Ela, Metafisicamente d’Outro Mundo” — que recinta “o Tejo é Aqueronte” — desabrochou de uma relação. Assumes-te como “um produto do romantismo”?
Ao sentir — como enuncia Álvaro de Campos — “tudo de todas as maneiras”, o não renegar o lado emocional permite-me escrever — com o coração exposto, vulnerável e inteiro.
Como a madrilena Amalia Bautista afirmou — numa breve conversa —, os três pilares fundamentais residem na vida, no amor e na morte — e se refletirmos, concluímos que não há criação, que escape.
“Poezz” reúne o improviso do saxofone de Kenny Caetano e a compilação de autores lusófonos. A performance sugere uma análise profunda?
O rótulo de “revolucionário” — ou qualquer chavão usual — limita a liberdade de atuação.
Trata-se — sim — de uma verdadeira oportunidade de partilhar a linguagem dos sentidos — e das impressões —, que impõe um caminho autêntico e fluído.
“Vim Sem Tempo” chega — fruto de uma viagem, que homenageia. O exercício linguístico desmistifica o conceito de “luto”?
O ponto de partida emergiu da tentativa de desconstruir um fenómeno incompreensível e intransigente — isento de pretensões de sucesso ou máximas universais.
A resposta situa-se na busca, em prol do desfecho, uma vez que o efeito resultante — mágoa, desgosto ou aflição — depende do leitor.
Com (cerca de) 200 mil seguidores nas plataformas digitais, o desdém “do que vende e se autopromove” persiste?
Sem dúvida — e continuará.
É — num mercado pequeno, que centra o reconhecimento em prémios — que a aceitação dos pares insiste em ocupar o lugar de destaque, em que a repercussão — junto do povo — provoca um desfasamento elevado — ao máximo expoente — e uma crítica — vergada ao status quo.
Queixamo-nos de um espaço fechado — em caixas —, quando somos nós que as empacotamos.
A presença regular em Instituições de Ensino e Bibliotecas fornece um fôlego renovado ao género menos comprado — em Portugal. A Geração Z possui um papel preponderante?
Absolutamente.
Os jovens detêm um diamante em bruto — por lapidar —, que concebe comunidades — ao redor de interesses comuns —, convertendo projetos em soluções — financeiramente — sustentáveis.
A edificação de pontes de empatia constitui um momento paradigmático, que materializa o futuro, mediante a oratória de rimas ou prosa.
Imersos num poço de scrolling e likes, a banalização do erro — em contexto online — manifesta-se evidente?
Hoje, o ativismo rima com militantismo.
As redes sociais — e a ilusão acarretada — conduzem à divisão em fações reacionárias, ao tribalismo e à inaptidão de discutir — tranquilamente —, perdendo a habilidade de estarmos com o outro — longe de uma lente confrontacional.
Carecemos de paciência e de altruísmo — baseado na evidência de que merecemos o mesmo respeito.
Defendes que “lemos o estado puro do texto”. As “interpretações corretas”, que nos ensinam — em Português —, deveriam ser abolidas?
Privilegiar o esmiuçamento — indicação da estrutura, dos recursos estilísticos ou do enquadramento sociopolítico — retira a possibilidade de espoletar o gosto genuíno ou a curiosidade aguçada, transformando-a numa matéria de exame, de nota e de ingresso à Universidade.
O resumo de um cântico a meia dúzia de perguntas revela ser um desserviço — mascarado de ensino.
Que legado ambicionas proporcionar à sociedade?
Almejo levar a poesia a esgotar palcos de renome — Coliseus, Campo Pequeno ou MEO Arena —, abrindo caminho para que um espetáculo erudito seja encarado como um concerto, um especial de comédia ou uma peça teatral, porque a arte declamada transcende o microfone.