Entrevista | Carla Caracol: “Cumprir as tarefas, estipuladas nos descritivos funcionais, é diminuto”
Licenciada e Mestre em Sociologia Económica, Doutorada em Comportamento Organizacional e Pós-Graduada em Gestão e Desenvolvimento Estratégico, Direito do Trabalho e Assessoria Empresarial, Carla Caracol transitou do universo dos Seguros para a (brilhante) galáxia dos Media, sendo, há já sete anos, Diretora de Recursos Humanos do Grupo Renascença Multimédia.
Com um espírito analítico (altamente) apurado e uma franqueza extraordinária, revela, em entrevista, que é de atração contínua a visão que possui de um espaço corporativo de excelência, onde a cooperação e o risco imperam.
Olhando para o panorama nacional, que aspetos eleva ao pódio?
O discurso sobre a necessidade de assumirmos uma posição tática tem sido recorrente, não se refletindo — efetivamente — na prática, onde o foco permanece em métodos arcaicos de recrutamento, seleção e formação, sem colocar a devida atenção no Marketing, na Comunicação Interna e na Construção de Marca.
Existe, por isso, um negligenciamento da importância da multidisciplinaridade para lidar com a complexidade do setor, que demanda uma panóplia de habilidades, nomeadamente Analytics ou Estatística, sendo indispensável uma mudança de mentalidade e um investimento contínuo em reskilling e upskilling, mediante programas abrangentes e atualizados.
Um modelo de liderança estratégico, onde o capital humano é a força motriz do negócio, manifesta ser a conduta de sucesso. Que potencialidades se ampliam na ligação estreita entre a conquista de objetivos e a priorização dos valores individuais?
Desenvolver, implementar e monitorizar políticas — considerando o contexto e as características dos colaboradores — implica garantir o bem-estar e a motivação, com o intuito de gerar resultados tangíveis, acompanhando, de forma empática, o desempenho apresentado.
Construindo uma cultura de confiança e proximidade, o sucesso a longo prazo é assegurado.
À medida que as fronteiras tradicionais vão sofrendo alterações incontornáveis, as perícias socioemocionais tornam-se num critério primordial. A união entre soft skills e hard skills é o fio condutor para uma performance de qualidade?
Absolutamente.
É imperativo reconhecer que a valorização das power skills — cruzamento entre competências — é uma tendência contemporânea colossal, abrangendo, não só exigências técnicas, como também atitudes proativas, capazes de vislumbrar oportunidades na mudança e de agregar valor, que rompem com a mera reprodução do status quo.
Numa conjuntura — progressivamente — dinâmica, reinvindica-se o empoderamento, encarando os desafios com determinação e localizando o poder transformador, que reside em cada um de nós.
Mas… É possível singrar no mercado de trabalho e construir uma carreira triunfante, sem possuir um grau académico superior?
Sem dúvida.
Através da ímpar identificação e exploração de possibilidades, inúmeros casos de êxito, que não possuem diplomas formais de Instituições de Ensino, encontram o seu lugar e relevância na área de atuação, detendo uma equipa diversificada — apta a disponibilizar perspetivas e saberes heterogéneos — para atender às demandas solicitadas.
Porém, é percetível que candidatos não qualificados atingem cargos limitativos, padronizados ou de menor profundidade.
Segundo o estudo “Atlas da Emigração Portuguesa”, mais de 850.000 jovens, entre os 15 e os 39 anos, abandonaram Portugal. Que mecanismos deverão ser executados para atrair a geração mais qualificada de sempre?
Utilizando a analogia de um casamento, a paixão precisa de ser ininterruptamente semeada e o empenho voluntário terá de nascer de uma conexão emocional genuína.
Perante as implicações da inflação, do custo de vida e da habitação, é urgente implantar soluções estruturais e políticas, visando o fortalecimento do país — remunerações dignas, condições flexíveis e tributações leves.
Não nos podemos contentar com relatórios extensos, que não se traduzem em ações concretas.
A Inteligência Artificial — resultado da transformação digital — emergiu como um estímulo poderoso, redefinindo o cenário laboral. Os benefícios superam as adversidades?
Atualmente, a automatização de um conjunto de processos rotineiros — triagem de currículos, processamento salarial ou avaliação de aproveitamento — é evidente, sendo crucial uma adoção cautelosa e ponderada, uma vez que a responsabilidade da ocorrência de erros recairá sobre os profissionais.
Apesar de a aplicação de algoritmos reduzir a subjetividade da análise e intensificar a produtividade, é impreterível que sejam, previamente, testados, para evitar viés ou efeitos inadequados.
O que é um talento?
Cumprir as tarefas, estipuladas nos descritivos funcionais, é diminuto.
Ir além do esperado, contribuindo expressamente para as metas, ultrapassando os paradigmas estabelecidos e demonstrando um compromisso excecional com a excelência, é o ingrediente secreto.