É isso que exige o competitivo mercado de trabalho atual, e por isso aos hard skills que adquires no Ensino Superior deves acrescentar soft skills, através de formações transversais, de acordo com Gonçalo Matias. E para colmatares a falta de experiência, deves ser flexível e estar preparado para tudo.
Nome: Gonçalo Antunes Matias
Empresa e Atividade: Presidente da Associação Portuguesa de Aeronaves Não Tripuladas e piloto de linha aérea na TAP Portugal
Formação: Licenciatura em Ciências Aeronáuticas e Mestrado em Operações de Transporte Aéreo no Instituto Superior de Educação e Ciências (ISEC)
Que atividade(s) profissional(is) desempenha atualmente?
Atualmente sou oficial-piloto na frota de Airbus 330 da TAP Portugal e Presidente da Associação Portuguesa de Aeronaves Não Tripuladas (APANT).
Quando terminou a sua formação superior, imaginava ser o profissional que é hoje? Porquê?
Sim. Foi exatamente para ser piloto de linha aérea que orientei o meu percurso académico. No entanto, fiquei fascinado com a quantidade de profissões associadas ao transporte aéreo, com o número de desafios e com o ritmo alucinante de inovação que este setor tem. Isso fez com que tenha sentido vontade de aprofundar os meus conhecimentos e ganhar novas competências.
Durante este percurso académico e profissional têm aparecido novos desafios que tenho acolhido com muita dedicação e paixão – um deles é a APANT. Sou um dos fundadores desta associação, que tem como objetivo promover todas as atividades relacionadas com aeronaves não tripuladas (drones) e contribuir para o desenvolvimento seguro, eficiente e sustentado deste setor.
De acordo com a sua experiência, o que é que é mais importante aproveitar/reter numa licenciatura, tendo em conta o profissional que se quer ser no futuro?
Muitas vezes, as componentes generalistas das licenciaturas são menosprezadas pelos estudantes, por não estarem diretamente relacionadas com a especificidade da profissão que pretendem exercer. Mas elas não são menos importantes, porque têm como valor intrínseco o desenvolvimento de competências que mais tarde serão ferramentas úteis à nossa profissão.
Tendo em conta a atual conjuntura do mercado de trabalho, os estudantes precisam de conhecer os desafios que vão enfrentar e preparar-se adequadamente. Além do estudo para uma profissão, são necessárias competências e ferramentas elementares, das quais eu destacaria a ética, a disciplina de trabalho e o pensamento crítico.
“A profissão de piloto é uma profissão onde a experiência é muito valorizada. Só é possível colmatar a falta de experiência inicial através de muita preparação e muito estudo.”
E o que é que é mais importante na transição da universidade para o mercado de trabalho?
É fundamental entender os desafios e dificuldades dos diferentes mercados de trabalho, que são cada vez mais competitivos e exigentes, e que por isso requerem profissionais completos. Isso implica que, para além das hard skills – competências académicas e técnicas atestadas – os trabalhadores tenham soft skills – características pessoais que contribuem para uma boa execução do trabalho e para um bom interrelacionamento entre pares, como por exemplo a resiliência, a flexibilidade, o dinamismo e a motivação. O setor da aviação não é exceção.
Que papel atribui à sua formação superior para hoje ser um bom profissional? De que forma é que o preparou?
O curso de piloto de linha aérea é um curso que não confere o grau. Na realidade é um curso técnico frequentado numa organização de formação aeronáutica que confere uma licença de pilotagem – o brevet.
Em 2005, quando iniciei a minha formação em aviação, a Licenciatura em Ciências Aeronáuticas era pioneira. E, apesar de não ser um requisito para a profissão de piloto, decidi apostar numa licenciatura (em simultâneo com o curso de piloto de linha aérea), porque estava convicto que o mercado de trabalho estava em mudança e que essa seria uma win-win situation: por um lado, eu teria um melhor desempenho enquanto piloto; por outro, o meu futuro empregador teria em mim um ativo mais valioso. Hoje vejo que a minha aposta foi acertada.
E o que é que não se aprende no curso que o trabalho e a vida acabam por ensinar? O que vão os jovens encontrar no mundo profissional?
Quando era instrutor de voo dizia sempre aos meus alunos: “A experiência não se ensina, adquire-se”. E em aviação é mesmo assim. A profissão de piloto é uma profissão onde a experiência é muito valorizada – e, naturalmente, um requisito – por, efetivamente, ser muito importante. Só é possível colmatar a falta de experiência inicial, que todos partilhamos, através de muita preparação e muito estudo.
Os jovens vão encontrar um mundo profissional muito dinâmico e em constante transformação, que exige adaptabilidade dos seus profissionais – têm de estar preparados e ser flexíveis.
Era exatamente essa a minha próxima pergunta: que conselhos pode dar aos jovens que estejam indecisos na escolha desta área de formação?
Aconselho a correrem atrás dos vossos sonhos. Caso queiram ser pilotos de linha aérea, tirem o curso, apliquem-se na formação para terem conhecimentos sólidos, trabalhem as vossas competências técnicas e não técnicas e lembrem-se que esta é uma profissão global – há literalmente todo um mundo de oportunidades, em Portugal e lá fora.
[Foto: cedida pelo entrevistado]
Esta entrevista é parte integrante do Guia de Acesso ao Ensino Superior 2017/18 da Mais Educativa, disponível para consulta aqui.